Caminho ao Socialismo



Uma classe dominante desvairada por estes temores mortais só tem uma preocupação obsessiva que é a da ordem a qualquer custo. Ela sabe perfeitamente que as classes subalternas apenas aspiram a uma melhoria de suas condições de vida e de trabalho e oportunidades de ascensão social para seus filhos, através da educação; e que as classes oprimidas apenas reivindicam o simples direito ao trabalho regular como assalariados. Estas singelas aspirações e reivindicações poderiam, obviamente, ser atendidas, desde que a estrutura de poder redefinisse algumas de suas diretrizes básicas, como o monopólio da terra, a espoliação estrangeira e a precedência absoluta dos interesses privados sobre o bem comum. Estas inovações só representariam perdas de riqueza, poder e privilégios para certos setores, sobretudo os mais arcaicos. O que impede, porém, a reordenação política que corresponderia aos objetivos do que seria uma "burguesia nacional progressista" é o caráter monoliticamente solidário de toda a classe dominante. É o temor co-participado por todos os privilegiados de que, uma vez aberta a ordenação social à redefinição, eclodiria um processo revolucionário incontrolável, conducente ao socialismo.

Assim se verifica que, paradoxalmente, no plano ideológico, as classes dominantes construíram uma consciência de classe correspondente à sua oposição irredutível à ameaça virtual de uma revolução socialista. As classes dominadas, porém, estão longe de construírem sua própria consciência de classe correspondente ao desafio histórico de se fazerem os construtores de uma sociedade socialista.


(in, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil - editora Vozes, 7ª edição - 1983, p. 98/99)

In memoriam, Darcy Ribeiro

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